sábado, 22 de maio de 2010

A Procura da Boa Alma


As portas do teatro se abrem e o público começa a entrar. Em uma delas, Denise Fraga; na outra, Ary França. Eles entregam o programa da peça enquanto brincam e agradecem as pessoas por terem vindo.
Assim, o clima é montado. “O que vocês vão ver aqui hoje é uma comédia, ok?!”, avisa o ator Ary França continuando sua interação com o público.
O sinal toca. Os atores se dirigem ao palco. Sentam de costas para o público no que parece ser um camarim improvisado. Levantam-se segurando velas e as apagam após um grito em uníssono de “merda!”. Começa, então, A Alma Boa de Setsuan.


Escrita por Bertolt Brecht, a peça conta a história de quando Deus (Ary França) vai à cidade de Setsuan à procura de uma boa alma. Essa alma ele encontra na prostituta Chen Tê (Denise Fraga), após tê-lo hospedado em seu quarto. Antes de ir embora, Deus dá a Chen Tê mil moedas de ouro. Com isso, ela compra uma tabacaria e muda de vida. Porém, por nunca conseguir dizer não, Chen Tê logo perde o que tem e se endivida. É quando ela se disfarça de Chui Ta, seu primo que chegou a cidade para cuidar dos negócios, e que representa seu oposto.
A peça é dirigida por Marco Antônio Braz e já ganhou vários prêmios entre eles: o APCA de 2008 como melhor espetáculo e como melhor atriz para Denise Fraga. Prêmios estes mais do que merecidos.

Destaque para a atuação de Denise Fraga que mostra sua versatilidade ao interpretar Chen Tê e Chui Ta, na variação de voz, gestos e movimentos, para convencer, não o público, mas os outros personagens de que são duas pessoas diferentes.
Outro destaque na atuação é para Ary França em sua interpretação de Deus que consegue tirar boas risadas da platéia, principalmente com sua interação com o Espírito Santo – representado como uma ave meio tosca que ele leva em seu ombro.

O cenário e o figurino usados são relativamente simples. Quanto ao cenário, são os próprios atores que o movimentam e o montam. Isso confere à peça certa leveza, como se as diversas partes que constituem o cenário estivessem dançando. O figurino é igual para todos os atores, o que varia, na verdade, são os adereços – usados para representar os personagens – simples como um leque, um chapéu ou mesmo uma túnica.
O elenco praticamente não sai de cena. Usa o fundo do palco como camarim para se preparar para a próxima entrada. Contudo, os atores parecem estar confortáveis e muito entrosados, brincando entre eles – como quando um personagem puxa a barba falsa do outro – e chegando a, até mesmo, interagir com a platéia em alguns momentos.

O final do espetáculo pode decepcionar a alguns. Pelo menos àqueles que esperam um fim convencional. A peça não oferece respostas prontas aos questionamentos levantados ao longo da apresentação. No entanto, é a atriz Denise Fraga que finaliza com um texto falado por ela mesma, que só traz mais questões e leva o público, que a pouco ria da situação proposta, a pensar e refletir sobre qual seria o final para Chen Tê; ou melhor, para a contraditória natureza humana.

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