terça-feira, 22 de junho de 2010

Nascida para cantar: A música na vida de uma vaidosa e organizada cantora.

(Esse texto é uma pequena homenagem para a minha professora de canto Rosely.)

Um dia, parada no farol, dentro do carro. Com cabelos vermelhos, repicados, batom e óculos escuros. “Olha a Rita Lee”, diz uma garota que passava em outro carro. Mas não era a Rita Lee. Era, na verdade, uma outra cantora, um pouco menos conhecida, Rosely Aparecida Neves.
“Cantar é a minha vida!”. Não é famosa, mas já passou por essa fase, “não vou deixar de cantar porque eu não fiquei famosa, porque vou ficar frustrada duas vezes”. Rosely, ou Lily como é chamada pelos amigos, já fez cover da Rita Lee, “quando era jovem me incomodava um pouco, hoje eu curto, acho legal”.
A menina que, como conta a mãe, dançava e cantava em frente à televisão, trabalha hoje, aos 51 anos, também como professora de teclado, algo que faz há 30 anos, e de canto, há apenas três. Aparecida, porque nasceu com um problema de saúde e, como promessa da mãe, foi batizada na igreja de Nossa Senhora Aparecida. “E graças a Deus eu acho que funcionou! Nossa Senhora Aparecida foi boa comigo”.

Rosely sempre gostou de cantar. No entanto, só decidiu seguir a carreira na música já depois de participar de algumas bandas, entre elas a do irmão e de amigos. “Minha carreira foi invertida”, diz, já que começou fazendo shows e depois foi aos bares. A partir de então, foi estudar música. Estudou no Conservatório de Guarulhos oboé e técnica vocal durante quase três anos.
Guarulhos é onde mora há 38 anos. Em um prédio de três andares, mora no térreo, sozinha em um apartamento de dois quartos. “É um lugar bem calmo, não passa ninguém no corredor, nem nas janelas”.
O piano entrou em sua vida por meio de um “desafio” – que mais tarde se revelou falso – de um amigo de seu namorado na época: ele dizia que Rosely poderia cantar na banda, mas não era capaz de tocar um instrumento. Começou então a estudar piano e foi com ele que passou na Ordem dos Músicos. Não fez faculdade de música porque na época só existia faculdade paga.
Começou a dar aulas por meio de um convite feito pela dona da escola onde estudava piano. Isso quando tinha apenas 21 anos. De temperamento forte, por diversas vezes perdia a paciência com seus alunos, algo que hoje não acontece. “A minha relação com a Rosely não é apenas uma relação professor-aluno. É mais que isso. A gente conversa bastante, mesmo não sendo sobre a aula”, diz Maria Cristina de Oliveira, aluna a quase um ano de Rosely. “Ela é meiga e paciente e se interessa pelo desenvolvimento do aluno”, completa.
Desde então nunca mais parou. Quando chegou perto dos 40, percebeu que deveria continuar com esse trabalho, porque “queria casar e ter filhos e não casei nem tive filhos, então meu legado eu vou deixar para os meus alunos, que são como meus filhos”. Para ela “não só a música, mas a arte, faz o contato entre as pessoas”.

A primeira banda em que Rosely cantou, com apenas 15 anos, foi a Axibit Abascumastemus, conjunto do seu irmão mais velho e dono da escola onde hoje trabalha; e, sua primeira música nos palcos foi Sangue Latino, dos Secos e Molhados.
Organizada e metódica, Rosely adora rotina, mesmo odiando acordar cedo, “pra mim tudo tem que ter uma organização, sou uma pessoa muito metódica, disciplinada com as minhas coisas”. Seus esmaltes e perfumes são separados por ordem, assim ela pode usar todos. O mesmo acontece com suas roupas, as quais tem um dia certo para lavar, “tenho roupa pra ficar em casa, pra dar aula e pra cantar”. Essa organização toda se reflete também nas suas aulas, em que anota nos cadernos de cada aluno o que foi ensinado, por exemplo.
“Eu adoro comer só não sou gorda porque eu me controlo”. Controle que vem através da ginástica, que adora praticar, e o faz quase todos os dias, “é uma coisa que eu conquistei e não abro mão de fazer porque me dá muito prazer, é bom pra minha saúde e pra minha vaidade”.
Vaidosa é outro adjetivo que a descreve. Sempre usa a maquiagem combinando com as roupas, batons marcantes, além das bijuterias. Na verdade é loira, com a pele bem branca e, quando pinta seu cabelo de vermelho, fica mais parecida ainda com a Rita Lee.

Dá aulas todos os dias, tanto em escolas quanto particulares, exceto sextas e domingos. Começou a dar aulas de sábado por necessidade, “se pudesse só cantaria, mas não dá”, mesmo assim gosta de dar aulas. Não passa os finais de semana em casa, sai com o namorado, vai visitar os pais ou na casa de amigos.
Eventos, os faz quando surgem. É contratada, há oito anos, da banda Millennium que faz eventos, na maioria casamentos, mas também para festas em empresas, festas de animação, como define Rosely, “com repertório variado, pra dançar e cantar junto”.
Desde 1993 faz shows como backing vocal com o cantor espanhol Manolo Otelo, “mas tem pouco show porque ele não é um artista da mídia”. Seu último trabalho foi em uma gravação de um show em Curitiba, em maio. “Não tem uma foto minha cantando o solo com o Manolo Otelo e é uma coisa que mexe com a vaidade”, reclama Rosely.
Uma voz doce, linda e com muitos anos de experiência. Vaidosa e organizada. Adora o que faz. Essa é Rosely. Alguém que ama a música e nasceu para cantar.

A seguir deixo um vídeo da apresentação dela no Programa do Jô com o Manolo Otelo.

(obs.: Ela é a da esquerda)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Espelho

Já se passaram anos. Tantos crimes e nenhuma pista daquele serial killer. O detetive Thomas já estava cansado de tantas cobranças. Sempre que o caso ia ser encerrado, aparecia mais uma vítima. O mesmo padrão, jovens solitárias, e uma rosa deixada pra trás, em cima do corpo.
Thomas tinha problemas de sono. Mal dormia e quando dormia não se lembrava como. Era um sono sem sonhos. Em uma dessas longas noites ele recebe uma ligação. Mais uma vítima tinha sido encontrada depois de alguns dias. Como ninguém notou a falta dela?
Chegando ao local do crime, Thomas observa a sala ao seu redor. Nenhum sinal de briga, nenhuma pista, nada. Ele volta pra casa e sem sono começa a analisar as fotos de todos os crimes. De repente uma luz se acende. Thomas percebe que o assassino não deixava somente a rosa como pista. Deixava, também, um espelho posicionado perto da vítima. Porém, este espelho nunca estava na posição certa, em todas as fotos eles apareciam ao contrário, virados para a parede. Será que esse louco tem vergonha de seu rosto? Por que esse espelho virado? O que, na verdade, ele não quer ver? Eram tantas perguntas sem respostas que Thomas resolveu sair para caminhar.
O telefone toca. Thomas acorda assustado. Mais uma jovem foi achada. O detetive corre em direção a casa da vítima. E lá estava. O corpo, a rosa, o espelho. O que havia de tão assustador que nem o assassino conseguia ver e acabava por virar o espelho?
Pensando em algum motivo e em alguma maneira de capturar o assassino, Thomas voltou para casa.
Alguns dias se passaram. O assassino devia estar passando por algum momento difícil. Ele não matava ao acaso e agora, em menos de um mês, já eram quatro vítimas. Thomas não achava pistas suficientes e tudo parecia levar a um beco sem saída. Sem conseguir dormir, ele sai para caminhar.
No meio da noite, Thomas acorda. Olha ao seu redor, mas não reconhece o quarto. O detetive levanta, vai até a sala e acende a luz. E lá estava mais um corpo, uma rosa, o espelho virado. Como vim parar aqui?
O desespero começou a crescer em Thomas. Ele olha tudo ao seu redor, tentado encontrar alguma resposta. Pensa, até mesmo, em ligar para a polícia. Mas como explicar a presença dele ali?
Então, Thomas caminha até o corpo, fica em pé ao lado dele, de frente para o espelho. A resposta estava ali, tão perto, só que ele ainda não conseguia enxergá-la. Ele estica o braço devagar e vira o espelho.
Nada. Não havia nenhuma mensagem. Somente seu rosto. Envelhecido. Cansado. De mais um dia de trabalho.